Snap out of it!
Pampas, lacre, vestidos de menina ou “bohemian”, paninhos torcidos sobre a mesa, bacalhau e vitela…
O que nos aconteceu para ficarmos encravados, qual Groundhog Day, neste universo criativo, do qual não saímos há meia dúzia de anos? E porque não queremos sair?
Estas são as minhas perguntas para hoje!
A época de 2022 está feita. Merece as reflexões de que falei há umas semanas, quanto mais não seja para que não terminemos arrasados novamente, no que toca a saúde física e mental, e à vida pessoal e social, capitalizando esta avalanche de procura, de forma estratégica.
Mas então, e a inspiração, as ideias, o “pão para a boca” de quem é criativo?
Eu estou cansada de ver tudo aquilo que alinhei ali em cima, vocês não estão saturados de executar as mesmas coisas, época a seguir a época, fim-de-semana a seguir a fim-de-semana?
Podemos argumentar que é o gosto dos noivos que determina a oferta — e contra-argumentar que temos um papel activo naquilo que lhes propomos e na forma como demonstramos a sua magia e exequibilidade.
Podemos argumentar que ao fecharmos a oferta e a “automatizarmos”, estamos a ganhar eficácia para o negócio — e contra-argumentar que o trabalho de autor, por medida, é mais valioso e criativamente mais satisfatório.
Podemos argumentar que estamos alinhados com as tendências ditadas pelo Instagram — e podemos contra-argumentar que a inspiração e referências criativas não vivem da duplicação até ao infinito do mesmo tema, ainda para mais afunilado por um algoritmo muito cego.
Podemos argumentar, ah e tal, para quê mudar, não me quero chatear — e contra-argumentar ah, mas alguém cresce e se desafia numa zona de conforto?
E podíamos continuar desta discussão saudável e animada, mais um pouco. Ambos os argumentos e contra-argumentos têm o seu espaço, mas do ponto de vista do mercado, daquilo que somos como colectivo, como sector, como proposta, como posicionamento até internacional, eu gostava de ver mais audácia, mais ideias, mais frescura, em maior quantidade e com mais frequência. Mais assinatura, mais voz. Mais prazer, também.
Raramente temos perfil de liderança — somos os grandes especialistas em white label, produzindo com topo de qualidade para as marcas dos outros, de forma anónima ou muito discreta. Não gostamos da responsabilidade e do risco, abraçamos com duas voltas a segurança. No intervalo, somos excelentes executantes. Tanto talento e competência, ao serviço do outro, o que é uma pena.
Não digo isto de uma perspectiva arrogante, como se tivesse autoridade (real ou artificial — não a tenho) para dizer a alguém o que fazer com o seu negócio. Não é um juízo de valor.
É, isso sim, um olhar crítico sobre o potencial que fica por cumprir, sobre o saber fazer, mas ter receio ou inércia de o propor. Sobre o calar aquele “e se…” que paira sobre a cabeça.
E é uma questão de criar um equilíbrio na oferta, entre o de sempre e o novo, mais equitativo e menos avassalador.
É um empurrar para a frente, devagarinho ou com impulso, para que o mercado desperte, seja mais ambicioso, mais fervilhante, mais inspirado e inspirador, na oferta e na procura. Para que nos faça sorrir e suspirar, mais do que transpirar!
É acrescentar valor, imaterial e material. É querer isso para nós e para o cliente, um bocadinho ou um bocadão, à escolha e medida de cada um.
A fechar, uma nota final — continuamos a olhar, embevecidos, para os modelos americanos (Style me Pretty, Junebug Weddings, e por aí) e a importá-los, no máximo que conseguirmos, para o nosso formato.
Deixem-me que vos conte um pequeno segredo, nada secreto: a frescura de ideias, a assinatura de autor, as histórias epicamente contadas, borbulham nos mercados de casamento da Austrália, Inglaterra e Espanha.